E se eu lhes disser que me escorreram duas ou três lágrimas ao escutar essa música no show do Dead Fish de ontem?
Vergonhoso.
(DA SÉRIE: CARTAS QUE NUNCA VÃO ALCANÇAR OS DESTINATÁRIOS.)
Eu achava que a gente ia se amar pra sempre, porque tudo começou tão bonito e forte e era como um assalto ao meu coração. E então eu deixei a ilusão do "sempre" [assim como a do "tudo", e a do "nunca", e a do "nada"] preencher aquela pulsação vazia, vazia e saudável, sim, mas tão vazia…
Eu achava também que era tudo [olha ela aí de novo] tão bonito e infalível, ou perfeitamente contornável, mas aí o tempo passa, as coisas acontecem, as pessoas acontecem, as distâncias acontecem… Eu achava que a gente seria infalível por causa da amizade e da cumplicidade e do companheirismo e do amor - sempre o amor - e das horas, acima de tudo, de todas as horas, e da sua infinita bondade, mas então…
Tudo se perverte, tudo é pervertível - isso não é uma ilusão, meu amor, é um neologismo.
21 de junho de 2011
Amor louco
Eu me lembro desse amor louco. Desse amor cujo hálito fede a cigarro e bebida. A conhaque, muito vinho, todos aqueles entorpecentes, e sexo. Aquele sexo sujo, aquela trepada ridícula, idiota, chegava a ser idiota, porque no fim da noite, só sobrava porra entre as minhas pernas.
Mas eu me lembro que esse amor disfarçava toda essa baixeza com versos bonitos, dizendo daquela intensidade LOUCA, que varria da mente qualquer outra coisa, daquela OBCESSÃO incessante que não solta, não solta e meu deus, como eu precisei me soltar à força, à tapa, ainda que literalmente, ainda que tenha doído muito mais.
Esse amor sujo é aquele que queima rápido, explode, embriaga, te tira de você mesmo - mas ele definha, entra em coma, agoniza até que morra, em meio a todos aqueles dramas que lhe são sintomas ou características ou seja lá o que for.
E não sobra nada.
Nenhum cheiro, nenhuma voz, nenhum carinho, nenhum cabelo, nenhuma maciez, nenhuma doçura, nenhum discurso, nenhuma música, nenhuma gota de suor, só sobra a porra entre as pernas e o ventre gasto e exausto e - ainda bem - vazio.
Eu me lembro desse amor e as minhas orelhas vão pra trás e as garras saltam pra fora das patas. Eu me lembro desse amor e fico arisca. Eu me lembro desse amor e eu rosno mesmo. De nojo, de arrependimento, de repulsa, de raiva - de mim, por toda anulação - das ilusões, ahhh os dentes trincam quando me permito lembrar das ilusões.
Mas então eu olho em volta: agora, as coisas fluem em um tempo que me acompanha gentilmente, na velocidade tão rápida-lenta-precisa como a de uma pluma, que eu jogo e pego novamente em minhas mãos. Não acredito mais em durações, mas afinal… que seja ao menos do tamanho das duas vontades.
Mas eu me lembro que esse amor disfarçava toda essa baixeza com versos bonitos, dizendo daquela intensidade LOUCA, que varria da mente qualquer outra coisa, daquela OBCESSÃO incessante que não solta, não solta e meu deus, como eu precisei me soltar à força, à tapa, ainda que literalmente, ainda que tenha doído muito mais.
Esse amor sujo é aquele que queima rápido, explode, embriaga, te tira de você mesmo - mas ele definha, entra em coma, agoniza até que morra, em meio a todos aqueles dramas que lhe são sintomas ou características ou seja lá o que for.
E não sobra nada.
Nenhum cheiro, nenhuma voz, nenhum carinho, nenhum cabelo, nenhuma maciez, nenhuma doçura, nenhum discurso, nenhuma música, nenhuma gota de suor, só sobra a porra entre as pernas e o ventre gasto e exausto e - ainda bem - vazio.
Eu me lembro desse amor e as minhas orelhas vão pra trás e as garras saltam pra fora das patas. Eu me lembro desse amor e fico arisca. Eu me lembro desse amor e eu rosno mesmo. De nojo, de arrependimento, de repulsa, de raiva - de mim, por toda anulação - das ilusões, ahhh os dentes trincam quando me permito lembrar das ilusões.
Mas então eu olho em volta: agora, as coisas fluem em um tempo que me acompanha gentilmente, na velocidade tão rápida-lenta-precisa como a de uma pluma, que eu jogo e pego novamente em minhas mãos. Não acredito mais em durações, mas afinal… que seja ao menos do tamanho das duas vontades.
8 de junho de 2011
Duas palavras gigantescas: Sinto muito.
Muitas vezes fico de mal humor, muitas vezes sou grossa, muitas vezes passo batido por pessoas na rua, muitas vezes não tenho paciência com o que me pedem, muitas vezes eu sinto inveja, muitas vezes desejo vingança, muitas vezes bebo demais, muitas vezes me defendo demais, muitas vezes afasto quem gosta de mim, muitas vezes tenho medo, muitas vezes me sinto sozinha, muitas vezes sinto saudade, muitas vezes falo demais, ou muito pouco, muitas vezes esqueço os aniversários, as portas sem trancar, as janelas abertas, os emails não lidos.
Uma única vez eu tive um amigo que era meu irmão, e o perdi.
Uma única vez eu me humilhei e pedi pra que alguém não me deixasse.
Uma única vez eu senti alívio na morte de alguém que eu amava muito.
Uma única vez eu menti sobre algo que destruiu a vida de alguém.
Uma única vez eu amei alguém até seu último defeito.
Uma única vez eu me chamei de viúva - e ainda bem, não sou mais.
Uma única vez eu fui cruel a ponto de perder alguém para sempre.
Uma única vez eu desejei a morte de alguém - desejo não cria realidade, por sorte.
Uma única vez eu esperei algo de quem jamais poderia me dar o que eu queria.
Uma única vez eu contei uma mentira que protegesse uma verdade - me pergunto até hoje se isso valeu a pena, sem contar a contradição disso tudo.
Uma única vez eu tive um amigo que era meu irmão, e o perdi.
Uma única vez eu me humilhei e pedi pra que alguém não me deixasse.
Uma única vez eu senti alívio na morte de alguém que eu amava muito.
Uma única vez eu menti sobre algo que destruiu a vida de alguém.
Uma única vez eu amei alguém até seu último defeito.
Uma única vez eu me chamei de viúva - e ainda bem, não sou mais.
Uma única vez eu fui cruel a ponto de perder alguém para sempre.
Uma única vez eu desejei a morte de alguém - desejo não cria realidade, por sorte.
Uma única vez eu esperei algo de quem jamais poderia me dar o que eu queria.
Uma única vez eu contei uma mentira que protegesse uma verdade - me pergunto até hoje se isso valeu a pena, sem contar a contradição disso tudo.
5 de junho de 2011
Raposa
Com certeza eu era uma raposa antes. Ágil, astuta, eu simplesmente visualizava a minha presa e a obtinha. Simples assim. E funcionou durante um bom tempo.
De certa forma, eu também era mais dócil. Há alguma doçura boba, não, essa não é a palavra, talvez ingênua, nos canídeos que eu nunca entendi por completo, mas que, com o tempo, não muda, permanece, não importa o quanto seja posta à prova.
Eis aí como eu soube que não era mais uma raposa. Em algum ponto a minha doçura não resistiu, e por um tempo, por um bom tempo, ela esteve ausente e então as pessoas começaram a dizer que eu era arisca.
Essa forma indócil cresceu. Ela amadureceu também.
A despeito de tudo que se diga dos felinos - que são ausentes, frios, indiferentes - minhas experiências com gatos sempre foram demonstrações de lealdade e amor. Seja matando fascistas ou ronronando, existe uma doçura ali que é perene, mas que tem discernimento.
Por isso hoje eu ando de forma silenciosa - apesar de alguns protestos dos meus sapatos, olho nos olhos de quem fala, escuto de forma paciente, passo muito tempo imóvel e ao sol, mantenho meus pensamentos para mim mesma, ronrono de preguiça pelas manhãs que tenho só comigo.
Mas não vá pensando que é simples conseguir que eu me trance nas tuas pernas ou que eu ronrone quando mexem no meu cabelo. Eventualmente, gatos também abrem as garras, mesmo quando estão apenas brincando de correr atrás do fio de lã.
(Isto não é uma ameaça - a não ser, é claro, que você seja um fascista.)
De certa forma, eu também era mais dócil. Há alguma doçura boba, não, essa não é a palavra, talvez ingênua, nos canídeos que eu nunca entendi por completo, mas que, com o tempo, não muda, permanece, não importa o quanto seja posta à prova.
Eis aí como eu soube que não era mais uma raposa. Em algum ponto a minha doçura não resistiu, e por um tempo, por um bom tempo, ela esteve ausente e então as pessoas começaram a dizer que eu era arisca.
Essa forma indócil cresceu. Ela amadureceu também.
A despeito de tudo que se diga dos felinos - que são ausentes, frios, indiferentes - minhas experiências com gatos sempre foram demonstrações de lealdade e amor. Seja matando fascistas ou ronronando, existe uma doçura ali que é perene, mas que tem discernimento.
Por isso hoje eu ando de forma silenciosa - apesar de alguns protestos dos meus sapatos, olho nos olhos de quem fala, escuto de forma paciente, passo muito tempo imóvel e ao sol, mantenho meus pensamentos para mim mesma, ronrono de preguiça pelas manhãs que tenho só comigo.
Mas não vá pensando que é simples conseguir que eu me trance nas tuas pernas ou que eu ronrone quando mexem no meu cabelo. Eventualmente, gatos também abrem as garras, mesmo quando estão apenas brincando de correr atrás do fio de lã.
(Isto não é uma ameaça - a não ser, é claro, que você seja um fascista.)
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